Religião profunda

Religião profunda

Comecei este texto com uma discussão sobre a eucaristia porque minha tradição religiosa em particular é a cristã. Mas o argumento que estou fazendo - que as experiências religiosas têm histórias muito específicas e longas - poderia ser feito com a maioria dos fenômenos religiosos. Isso é porque, nas palavras do sociólogo Robert Bellah, "nada é perdido". A história vai até o fim da linha para trás, e quem, como e onde estamos agora é o resultado de seu desenrolar. Qualquer fenômeno humano que existe é um fenômeno humano que se tornou o que é. Não há uma religião menos verdadeira.
Se nós formos pensar sobre a profunda história da religião, precisamos ser claros sobre que religião é essa. Em seu livro O Bonobo e o Ateu, o primatologista Frans de Waal conta uma história engraçada sobre sua participação em um painel da Academia Americana da Religião. Quando um participante sugeriu que eles começassem definindo o que é religião, alguém comentou que, da última vez que tentaram fazer isso, "metade da audiência raivosamente deixou o local". "E isso em uma academia com esse nome!", disse Waal.
Ainda assim, precisamos começar de algum lugar, então Waal sugere a seguinte definição: "a reverência compartilhada ao sobrenatural, sagrado ou espiritual, assim como os símbolos, rituais e adoração associados". A definição de de Waal ecoa outra dada pelo sociólogo Émile Durkheim, que também enfatizou a importância das experiências compartilhadas que "unem uma comunidade moral".
A importância da experiência compartilhada não pode ser desconsiderada já que, na história que estamos contando, a evolução da religião humana é inseparável da cada vez maior sociabilidade da linha hominídea. Como diz Bellah, a religião é uma maneira de ser. Nós também podemos encará-la como uma maneira de sentir, uma maneira de sentir juntos.



Seguidores da Igreja Batista de NazaréDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSeguidores da Igreja Batista de Nazaré escalam a Montanha sagrada de Nhlangakazi. Crenças e rituais religiosos ajudam a unir grupos de pessoas

Enquanto boa parte dos estudos científicos sobre religião serem sobre religiões com uma doutrina com base teológica, o psicólogo evolucionário Robin Dunbar acredita que essa é uma maneira limitada de estudar o fenômeno porque "ignora completamente o fato de que a maior parte das religiões da história humana tiveram um outro formato, de estilo xamânico, que não tinha deuses nem códigos morais". (Dunbar se refere a xamânico no sentido de religiões cujas experiências geralmente envolvem êxtase e viagem até mundos espirituais). Enquanto esses formatos baseados na teologia têm apenas alguns poucos milhares de anos e características de sociedades pós-agricultoras, Dubar afirma que os modelos xamânicos têm mais de 500 mil anos. São característicos de comunidades de coletores e caçadores, diz ele.
Se queremos entender como e por que a religião evoluiu, Dunbar diz que precisamos começar examinando as religiões "descascando os acréscimos culturais". Nós precisamos focar menos em questões sobre grandes deuses e crenças e mais nas capacidades que surgiram entre nossos antigos ancestrais que permitiram a eles criar uma maneira religiosa de estar junto.

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